É entre os oito e os 12 anos que os sinais da puberdade se manifestam no corpo das raparigas. Nos rapazes chegam mais tarde, pelos nove até aos 14. É a idade das grandes mudanças na forma e no tamanho, mas sobretudo na capacidade de reprodução, passo decisivo no caminho para serem adultos.
Mas o que fazer quando esses sinais despontam bem mais cedo? Quando, pelos cinco ou seis anos, as raparigas já evidenciam desenvolvimento das mamas ou nos rapazes os genitais se apresentam desproporcionados para a idade?
Se isso acontece está-se perante a puberdade precoce, que no sexo masculino significa que os carateres sexuais começam a desenvolver-se antes dos nove anos e no feminino antes dos oito.
Nelas, a precocidade manifesta-se também através da primeira menstruação e neles denuncia-se pelo crescimento dos pêlos faciais, sobretudo sobre o lábio superior, e pelo mudar da voz. Em ambos, surgem também os pêlos púbicos e nas axilas, o rosto começa a ser marcado pela acne e o corpo exala já um odor de adulto. Também em ambos se dá um rápido crescimento ósseo.
Na origem desta antecipação está, quase sempre, um desequilíbrio no processo que comanda a puberdade e que envolve uma região do cérebro chamada hipotálamo e a pituitária, uma glândula com o tamanho de uma ervilha situada na base do cérebro. O hipotálamo comanda este processo ao desencadear a libertação de uma hormona, a Gn-Rh.
Por sua vez, esta hormona interage com a pituitária, fazendo-a libertar outras duas hormonas, as quais estimulam os ovários e os testículos, onde são produzidas mais hormonas – os estrogenios, responsáveis pelos caracteres sexuais femininos, e a testosterona, responsável pelos masculinos. Iniciam-se então as mudanças físicas que caracterizam a puberdade.
Ora, nalgumas crianças todo este processo começa antes de tempo. Geralmente, sem que seja identificada uma causa: é o que se verifica na chamada puberdade precoce central, em que todo o processo se inicia mais cedo mas decorre num ritmo considerado normal, passo a passo.
São quase sempre crianças em que não há qualquer problema médico subjacente, embora, raramente, a precocidade possa ser consequência de um tumor no cérebro ou na medula espinal, de uma infecção como a encefalite ou a meningite, de um defeito no cérebro presente à nascença, de trauma, de obstrução no fluxo sanguíneo do cérebro e de alterações endócrinas na glândula supra-renal ou da tiróide.
Um segundo tipo de puberdade precoce é a periférica. Ainda menos comum do que a central, não envolve todo o eixo mas apenas as hormonas sexuais: os estrogenios ou a testosterona são libertados mais cedo no corpo destas crianças devido a problemas nos ovários, nos testículos, nas glândulas supra-renais ou na pituitária.
A puberdade precoce é mais frequente no sexo feminino do que no masculino. Aliás, mesmo em circunstâncias normais, os caracteres sexuais surgem mais cedo nas raparigas do que nos rapazes. Além do genero, outro fator predispõe ao acelerar da mudança: o peso, ou melhor, o excesso.
Mas o facto é que, sejam rapazes, sejam raparigas, não é fácil ser-se criança e lidar com um corpo em mutação. Não é fácil quando ela acontece dentro do prazo esperado, muito menos, pois, quando ela surpreende a infância.
Emocional e socialmente, a mudança é decerto difícil de aceitar e de gerir. Uma rapariga em que as mamas começam a evidenciar-se sentirá muito provavelmente embaraço pela diferença óbvia face às colegas e amigas.
Sentir-se-á confusa se, além disso, começar a menstruar. E correrá o risco de ser alvo da crueldade dos pares. O impacto nos comportamentos não é menosprezável: humor aos altos e baixos, irritabilidade, isolamento, agressividade, início precoce da sexualidade.
Mas há também consequências para a saúde física. É que as crianças com puberdade precoce crescem mais depressa do que os pares, ficando mais altas do que seria de esperar para a idade. Mas, esse crescimento termina também mais cedo do que o habitual, pelo que serão adultos com uma estatura inferior à média. Não atingem, portanto, todo o seu potencial de crescimento.
As raparigas poderão desenvolver um problema adicional, inerente ao genero: síndrome do ovário poliquistico, mais frequente quando começam a menstruar antes dos oito anos. No que respeita à puberdade, a precocidade pode ser fonte de múltiplos dissabores, pelo que é importante que os pais estejam atentos e que, perante qualquer suspeita de maturidade sexual antes de tempo, procurem ajuda médica.
A começar pelo pediatra ou pelo médico de família, que poderá depois encaminhar o caso para um endocrinologista, especialista em questões hormonais.
É possível tratar a puberdade precoce, mas depende da causa. Se não houver qualquer doença subjacente, o tratamento envolve a administração de hormonas sintéticas que bloqueiam a produção das hormonas sexuais, assim travando ou até revertendo o desenvolvimento, quer ao nível dos caracteres sexuais, quer dos ossos.
Uma vez finalizado o tratamento, o processo segue o seu ritmo normal, ou seja, estas raparigas e estes rapazes voltam a acompanhar os pares.
É importante em todo este caminho que as crianças sejam acompanhadas pelos pais, atentos a eventuais sinais de conflito emocional e relacional.
Falta de interesse pelas atividades habituais, diminuição dos resultados escolares, maior agressividade ou tristeza, tendência para o isolamento são indícios de que algo vai mal. Não são de admirar quando a puberdade chega mais cedo de que é esperada.