Na 16ª semana de gravidez, descobrimos, durante o ultra-som, que nosso tão esperado bebê apresentava uma deformidade na parte posterior do pescoço, conhecido como higroma cístico, e que isso poderia ou não vir acompanhado de outros problemas, mas que deveríamos conversar com nosso obstetra.
Assim o procuramos, e ele resumidamente nos disse:
o problema é realmente sério; no momento não há nada a ser feito. Deves prosseguir com o pré-natal normalmente, e te preparas para o pior, porque se acontecer o melhor, será lucro. Não fique se culpando ou procurando uma explicação para o fato, isso é como uma loteria, você ainda é jovem e poderá ter outros filhos.
Terminou o obstetra referindo-se às poucas chances de sobre-vida fetal ou neo-natal, conforme sua experiência.
Posteriormente, melhor acompanhada por outros profissionais experientes no assunto, descobrimos que precisávamos fazer um acompanhamento mais minucioso, exames mais específicos e o mais importante confiar em Deus, porque o higroma poderia ou não vir acompanhado de Síndrome, onde nesses casos, a mais comum seria a de Turner, e poderia assim como aumentar, também diminuir ou até desaparecer. Poderia apresentar ou não alguns problemas cardíaco, renal, auditivo etc., que só após o nascimento poderiam ser diagnosticados.
Enfim, nada que justificasse a interrupção da gravidez, que a mim foi sugerida já, no sétimo mês de gestação, por um outro profissional, atuante na área de gravidez de risco, justificando que meu bebê teria problemas mentais e auditivos, o que em sua visão seria um peso muito grande para ser carregado por toda a vida e por um casal tão novo. Neste contexto fica-me uma indagação: – como seria o mundo sem o sorriso das crianças portadoras de Sindrome de Down?
Não quero com esta carta julgar a ética profissional de cada um, quero partilhar apenas nossa felicidade. Maria Lídia, nossa amada filha, completou um aninho no dia 11 de março 2003, e goza de plena saúde física e mental. Nasceu com a Síndrome de Turner, tem problemas sim, passou por duas cirurgias: uma de hérnia e outra cardiovascular, necessita de acompanhamento médico freqüente, mas estamos aí superando todas as dificuldades, confiando em Deus e sem perder a esperança nos médicos.
Enfim, foi um ano de grandes vitórias, entretanto não teria o mesmo valor se não pudéssemos compartilhar essa história com todos vocês futuros papais e mamães, de bebês com síndromes ou não, e dizer: força não desanimem e acreditem, que enquanto houver um coraçãozinho batendo em seu ventre, haverá sempre a esperança de que todos têm direito à vida, mesmo que alguns digam ao contrário. E como dizia minha cunhada: bebês especiais merecem pais especiais e agora posso completar que eles também merecem famílias e amigos especiais, sem eles essa história poderia ter outro fim.
Myrian Silvana S C A Santos e Joélcio A dos Santos, Belém-Pa.