Todas as noites conto histórias à minha filha até ela adormecer. Por vezes pede para eu inventar histórias.
Outras vezes pede para eu alterar as que conhece. E assim vai adormecendo. Uma vez pediu-me para eu contar a história da branca de neve “mas sem branca de neve, só com a bruxa má e os 7 anões”.
E eu inventei:
Era uma vez sete anões que viviam numa floresta. Perto, havia o castelo duma bruxa muito má. E
Ela não gostava de ninguém, apenas gostava do seu corvo. Um dia, em que acordou muito mal disposta, disse ao seu corvo:
“hoje tenho de fazer mal a alguém, vai rapidamente à procura dos sete anões. Não voltes sem os encontrares”.
O corvo voou para a floresta à procura dos anões. Mas os anões, que tinham muito medo da bruxa má e do seu corvo, quando os viam aproximar-se escondiam-se logo. Assim, o corvo voou, voou, mas não os conseguiu encontrar. Cansado, voltou para o castelo da bruxa. A bruxa ficou furiosa com ele:
“eu não te disse que não podias voltar sem encontrares os anões? Desaparece daqui, volta para a floresta, e só voltas quando os encontrares”.
O corvo, muito contrariado, lá partiu outra vez. Mas os anões, quando o viram aproximar-se, esconderam-se outra vez. O corvo procurou, procurou, mas não os encontrou. Cansado, e não podendo voltar para o castelo, decidiu pousar numa árvore para descansar. Os anões, que pensaram que ele se tinha ido embora, saíram do esconderijo. O corvo, que mesmo cansado estava alerta, foi imediatamente dizer à bruxa má onde se encontravam os anões. A bruxa ficou radiante, montou a sua vassoura, e partiu para o local indicado pelo corvo. Quando os anões a viram já era tarde. Não tiveram tempo de se esconder. A bruxa, feliz por fazer mais uma maldade, transformou-os em passarinhos.
O tempo passou. Veio o Inverno e depois a Primavera. Um dia, uma fada boa entrou naquela floresta. Divertiu-se a brincar com os passarinhos e outros animais. Mas, de repente, reparou que havia sete passarinhos muito tristes num ramo de uma árvore. Foi ter com eles e disse-lhes:
“que se passa passarinhos? É primavera, o dia está lindo, todos os passarinhos chilreiam e saltitam de ramo em ramo e vocês estão aí tão quietos, tão calados, tão tristes. Que vos aconteceu?”
“Sabes fada” responderam “é que nós não somos passarinhos, nós somos os sete anões que a bruxa má transformou em passarinhos. E nós queremos ser anões. Por isso estamos tão tristes”.
“Coitados” , disse a fada “mas eu não posso transformar-vos em anões, o poder da bruxa má é muito grande. No entanto, posso ajudar-vos. Eu sei o que têm de fazer para voltarem a ser anões”
“Sabes fada? Por favor, ajuda-nos” disseram os passarinhos.
Então a fada disse “para voltarem a ser anões têm de voar até ao sol”.
Os anões agradeceram à fada a ajuda e combinaram começar a viagem no dia seguinte, logo que o sol nascesse.
Assim, de madrugada, os passarinhos começaram a voar em direcção ao sol. Voaram, voaram, voaram, mas parecia que nunca mais se aproximavam. Era demasiado longe. Mas continuaram a voar. De repente, começaram a sentir muito calor. Mas como queriam muito ser anões lá continuaram. Passado algum tempo, já muito cansados, começaram a sentir as asinhas a queimar. Mesmo assim não desistiram. Voaram, voaram, voaram. Até que, exaustos, verificaram que nunca chegariam ao sol pois morreriam queimados. Tiveram de desistir.
Voltaram para trás, esgotados e de lágrimas nos olhos. Nunca mais seriam anões. Voaram até ao limite. As asinhas não conseguiram voar mais e deixaram-se cair. Por sorte, estavam por cima da floresta onde moravam. Caíram em cima de umas folhinhas e ficaram a dormir. Quando acordaram nem queriam acreditar. Eram outra vez anões. Como foi isso possível se eles não tinham conseguido chegar ao sol? Felizes, embora não percebendo o que lhes tinha acontecido, foram procurar a fada. Quando a encontraram, muito excitados, perguntaram-lhe:
“fada o que aconteceu? Porque é que somos outra vez anões? Nós não chegámos ao sol!”
A fada boa, sorriu e disse:
“Isso não foi importante. O importante é que vocês esforçaram-se muito para chegar ao sol. Por isso foram recompensados. Agora tenham cuidado para a bruxa má não vos ver. Adeus anões, sejam muito felizes”
“Adeus fada, obrigado por nos teres ajudado” disseram os anões.
E a partir daquele dia os anões andavam sempre muito felizes mas também muito cuidadosos. Não queriam ser outra vez apanhados pela bruxa má. Mas a bruxa má, que pensava que eles ainda eram passarinhos nunca mais os procurou. E os anões ficaram sempre anões.