Era uma vez um porquinho recém-nascido muito gordinho e lindo. Ele era tão redondinho que foi batizado de Pitotó. Esse nome não lhe ficava mal, mas sua dona, ainda não satisfeita, varou noites acordada, pensando em um nome mais atraente para sua nova aquisição. Eis que finalmente encontrou: Pitotó Melancia.
Um quarto já estava preparado para Pitotó, com bercinho todo enfeitado. Mas não parava por aí: havia também bichinhos musicais, móbiles, chocalhos, lençóis de cambraia, travesseiros de plumas… Comida, só importada. Água, só vinda da mais pura nascente. Tudo era um luxo .
Agora na sua vida só existia seu pequerrucho, fazendo as mais ousadas traquinagens, próprias de um porquinho mimado e cheio de vontades. Sua dona (da qual não se sabe o nome, pois isto não causava curiosidade a ninguém) a tudo assistia com grande entusiasmo. Para ela, jamais outro porquinho da sua idade conseguiria igualar-se em inteligência. Era um porquinho especial. Ela, uma madame toda emproada, considerava-se a criatura mais importante de todas.
No planeta Terra não havia sábio, filósofo, artista ou pessoa comum que ganhasse dela. Era esse o seu pensamento. Dinheiro tinha de sobra. (Outro fato que permanece um mistério: de onde vinha tanta riqueza? Sua galinhas botavam ovos de ouro?). Antigamente era infeliz. Vivia sozinha no mundo. Desde que adotou como filho aquele suíno rosadinho, tudo mudou. Encheu-se de esfuziante alegria.
Dava-lhe banho perfumado, porém em sua banheira caberiam vários porquinhos tomando banho juntos. Isso nem pensar: outro porquinho aproximar-se de Pitotó. Era vigiado vinte e quatro horas por dia. Babás diplomadas vieram de todos os continentes para cuidar daquela criatura adorável.
Tratou-se então de comprar suas roupinhas: vestidinhos mil, tiaras, fitas, lacinhos, tudo cor-de-rosa.
Foi opção de sua dona escolher a cor rosa. Ela queria que seu porquinho fosse do sexo feminino.(Para o coitadinho pouco importava que lhe vestissem rosa, salmão, azul ou roxo… )
Vieram depois os sapatinhos: sandálias, tênis e até botinhas de cano alto. Uma loucura, até parecia uma princezinha de contos de fadas. O porquinho deslumbrado.
Mais incrédulos ficavam os vendedores, gerentes e clientes das lojas. Porém, todos observavam e atendiam prontamente, pois não queriam desagradar à ilustre e abonada senhora.
Aquela madame era o máximo saindo dos lugares toda empinada exibindo o seu tesouro Pitotó Melancia.
Aquela dupla encantava a todos por onde passavam. Provocava um misto de admiração e espanto.
Sua dona cada vez mais e mais feliz.
Em um belo dia, foram dar um passeio. Tudo ia muito bem, quando, de repente, no caminho surgiu um charco cheio de água muito suja. Num impulso, Pitotó Melancia soltou-se das mãos de sua dona, correu para a poça e lambuzou-se de lama até as orelhas.
Que momentos de felicidade aquele porquinho viveu!
Quem não ficou nada satisfeita foi sua dona, que começou a arrancar os cabelos de tanta indignação.
Tentou acalmar-se. Foi para casa, cabisbaixa, e pôs-se a refletir sobre o acontecido. Passaram-se dias, e a grande dama não saia de seu quarto. Eis que surgiu sua mais nobre decisão. Segurando o porquinho, segredou-lhe ao pé do ouvido: Vou levar-te para a tua família, teus pais, teus irmãos. Lá é o teu mundo.
O porquinho então pôde seguir sua natureza e viver em paz sua vidinha. Sua dona em pouco tempo casou-se e teve vários filhos. Mesmo assim, nunca esqueceu de seu querido Pitotó, visitando-o sempre em seu chiqueirinho.
Esta história é dedicada para os meus queridos: Fábio, Diego, Sarah, Camilla e Vítor Akiyama.
Enviada por: Lúcia Sendas