Num dia de grande discussão e de grande insolência com a mãe, o pequeno Dudu apanhou uma grande bofetada. O pequeno Dudu ficou muito irritado, cerrou os punhos e disse à mãe: “Hás-de ver… Hás-de ver quando tu fores pequena e eu for grande. Vou esmagar-te como se fosses uma mosca”. Era, claro, uma frase terrível, mas o certo é que Dudu detestava as bofetadas. Não deixava de ter razão, aliás, mas, por vezes, a mão move-se sozinha e, na maior parte dos casos, os pais acabam por lamentá-lo depois.
Nessa noite, enquanto ele dormia, o génio mau entrou no quarto. Sabes, o génio mau é aquele que se aproveita da cólera ou da tristeza para se meter sem dificuldade na alma das crianças.
— Hoje — disse o génio mau — os teus maus desejos podem tornar-se realidade. E murmurou: — Não precisas de esperar crescer para seres maior do que ela! Tenho uma máquina de reduzir o tamanho.
— Pode-se reduzir mães? — perguntou Dudu ofegante. Como resposta, o génio mau passou-lhe para a mão uma pequena máquina do tamanho de uma consola de bolso.
— Está aqui o botão de reduzir mães, que nós reservamos para todas as mães que dão palmadas aos filhos. Cuidado, se carregares no botão, a tua mãe diminuirá dez vezes de tamanho! Mas previno-te: quando a tua mãe estiver minúscula, terás de a proteger para que ela não desapareça. E o génio mau despediu-se, gritando: – Boa sorte, meu GRANDE Dudu!
O pequeno Dudu julgou, é claro, que tinha sonhado. Mas, no dia seguinte, quando viu debaixo da almofada o aparelho de reduzir, com o seu grande botão, não se conteve e …. Ziiiiiiip! De repente, um clarão cegou-o e a mãe entrou na sala pouco mais alta do que uma ratinha.
— O que é que está a acontecer-me? — disse com uma voz minúscula, porque agora tudo era minúsculo, até a voz, até os olhos, não maiores do que cabeças de alfinete, e as suas minúsculas mãos, que se agitavam como pontinhas de cotonete.
— É um aparelho de reduzir mães — disse Dudu, pondo os pés em cima do sofá. — Foi por causa daquela bofetada, percebes? Agora deixa-me ver televisão e volta para a cozinha, por favor. A mãe aproximou-se, com um olhar furioso. Deu um salto para chegar ao telecomando, mas não conseguiu. Era, de facto, muito pequenina.
E, a partir daí, tudo o que a mãe queria fazer, não conseguia, por causa do seu tamanho. E muitas vezes ficou em perigo e Dudu teve de a salvar. A mãe começou então a chorar, sentia-se abandonada e sem forças. Dudu ficou assustado porque a mãe nunca tinha chorado. Então, a mãe contou-lhe como, por vezes, se sentia sozinha e em baixo. O pequeno Dudu tinha vontade de a mandar calar … mas afinal a sua missão agora era proteger a sua pequena mãe.
Dudu sentiu um peso sobre os ombros e começou a pensar que gostava mais do tempo em que a sua mãe era grande e não se queixava tanto. Como fazer, agora? Como quebrar o encantamento? Haveria um aparelho ampliador de mães? Virou a consola em todos os sentidos, mas só havia o grande botão de reduzir, que o olhava fixamente com um ar irónico.
À noite, a mãe jantou um grão de arroz, bebeu uma gota de água e deitou-se numa sapatilha acolchoada. O pequeno Dudu mastigou umas pipocas tristemente. Ao voltar para o quarto, desejou que aquela história não tivesse acontecido, e adormeceu rezando para que a sua mãe voltasse a ficar grande.
No dia seguinte, a mãe tinha recuperado a sua estatura normal! Um metro e setenta, cinquenta e cinco quilos. Como estava bonita. E Dudu perguntava-se: — Seria um pesadelo? Ou aquela história da máquina de reduzir tamanhos tinha existido realmente? Então, Dudu ouviu a mãe dizer-lhe: – Despacha-te a vestir, por favor. Não quero voltar a zangar-me contigo. Não quero voltar a dar-te bofetadas. Tudo isso acabou! —
E Dudu compreendeu que a história do botão de reduzir tinha de facto acontecido. Levantou-se de um salto e aninhou-se nos braços da mãe e disse: – Nunca mais, nunca mais quero ser maior do que tu. E pensou:
“Há alturas em que as mães são gigantes, com a sua voz grossa, os seus olhos enormes, as suas imensas sobrancelhas carregadas. Mas há outras alturas em que são apenas maiores do que nós. E assim é bem melhor.”