O comboio saiu do seu túnel escuro, e os passageiros encadearam-se com a luz do sol, que estava anoitecendo sobre o mar. A menina de risos dourados estava sentada ao colo da sua mãe, dizendo-lhe que tendo o Verão já acabado, havia ainda pessoas na praia.
Perguntou-lhe então:
– As ondas falam, mãe?
– Claro, filhinha. As ondas são quem viaja por todo o mundo com as suas bocas brancas e contam umas às outras o que se tem passado, pelos lugares onde têm estado.
Às vezes riem-se muito, e é por isso que ouves muitos salpicos a seguir ao seu romper, outras vezes estão chateadas e há ondas muito grandes que ao romperem fazem muito barulho. Em algumas ocasiões, estão preguiçosas e nem se mexem, e isso é porque estão a dormir. Uma pequena onda que quase nada diz sobre a areia, significa que está a roncar.
– Olha mãe! Que nuvem mais estranha.
– Sim, tens razão. Essa nuvem, é a nuvem dos segredos. Sabias que havia essa nuvem?- perguntou, em segredo a mãe.
– Sim… escuta os segredos de todos…- diz, a menina rindo-se.
-Bem, de certa maneira sim. Todas as ondas lhe contam os seus segredos, porque sabem que ela não os contará a ninguém. Todos os animais do mar o fazem. Sabes que outros animais no mar existem?- perguntou-lhe, obrigando-a a pensar um pouco.
– Sim … os pássaros da água. – contestou rindo.
– Ah… Como se chamam? Gai… – dava-lhe uma ajuda.
– Gaivotas!- contestou, contente de o saber.- Olha mãe, há uma que está a brincar com as ondas. Sabias mãe que as gaivotas voam, porque têm uma barriga muito grande?
– Sim, também porque se enchem de ar – diz a mãe, enchendo as suas bochechas de ar, abrindo os braços em redor e movendo-se de um lado para o outro – e fazem-no como um avião.
Às vezes as gaivotas querem saber os segredos que as ondas contam à nuvem, e aí a nuvem parte aborrecida para outros lugares. Se a gaivota a aborrece muito, então começará a chover. Outras vezes, chove sobre a terra e os segredos caem nas plantas, nas árvores, nas flores ou simplesmente sobre a terra. Como não conhecem as ondas, não percebem muito o que significam esses segredos, e então caem-lhes em cima.
– E o que se passa com os segredos que chovem sobre a terra?- perguntou-lhe, olhando através da janela.
– Não se passa nada, caem como simples gotas de chuva, guardando os segredos para sempre no coração de cada gota, que ao ser absorvida por uma árvore, flôr, ou onde quer que venha a cair, guarda esse segredo como se alguém lho tivesse contado. Mas, nunca pode lembrar-se que é uma realidade, como quando alguém pensa que tem algo a dizer, e não se recorda o que é.- explica-lhe a mãe juntando uma parte do seu rosto, contra o da sua filha de quatro anos.
A menina acomoda-se no colo da sua mãe, e enchia-lhe a cara com os seus caracóis dourados.
Á medida que o comboio apitava, algumas nuvens rosa, azul e violeta, juntavam-se no horizonte a escutar os segredos, que alguém tinha para lhes contar. Outras chegavam mesmo a tempo, para se desfazarem com o entardecer. E entre contar nuvens e mais nuvens, foram chegando à sua estação, onde pararam e se despediram das senhoras do céu, até ao dia seguinte.