O número de interrupções voluntárias de gravidez (IVG) continua a aumentar e em algumas unidades de saúde o crescimento é significativo. No Hospital de Amadora-Sintra, por exemplo, houve um acréscimo de 23 por cento no primeiro semestre deste ano; na Clínica dos Arcos (Lisboa), o crescimento foi de 16 por cento até Agosto passado; e no Hospital de Garcia de Orta (Almada), o aumento global foi de cerca de dez por cento.
Interrupção voluntária da gravidez (IVG)
Mas há hospitais em que o aborto ao abrigo da lei está estabilizado, como o de Santa Maria, em Lisboa, e outros em que o acréscimo é pouco significativo, exemplo da Maternidade de Júlio Dinis, no Porto, soube o PÚBLICO.
Os dados oficiais relativos ao primeiro semestre deste ano já foram apresentados, em Lisboa, no II Encontro de Reflexão sobre a IVG, e permitirão perceber em detalhe a evolução desta realidade no país.
Os últimos números divulgados pela Clínica dos Arcos (referentes aos primeiros oito meses deste ano) apontam para um total de 4183 IVG, mais 678 do que no mesmo período de 2008. É para esta clínica privada que são encaminhados os pedidos dos hospitais onde quase todos os médicos são objectores de consciência, como é o caso do Amadora-Sintra e do Hospital de S. Francisco Xavier, em Lisboa.
No Amadora-Sintra, o acréscimo de mulheres que aparecem na consulta de Ginecologia com pedidos para abortar tem sido significativo. Nos primeiros seis meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, houve mais 212 IVG. Os maiores acréscimos verificaram-se em Pêro Pinheiro, Reboleira, Venda Nova e Rio de Mouro.
“É expectável que o número de IVG continue a aumentar por várias razões”, explica Maria José Alves, da Maternidade de Alfredo da Costa, que defende que os dados oficiais não podem ser olhados “a seco”. “É preciso ver como e onde isto está acontecer”, frisa, notando que os registos dos serviços melhoraram e que é natural que mulheres que antes abortavam clandestinamente se dirijam cada vez mais aos hospitais para o fazer porque sabem que serão bem atendidas.
Manuel Hermida, director do Serviço de Obstetrícia do Hospital de Garcia de Orta, acredita também que o aumento decorre em parte da percepção de que a legalização “permite fazer as coisas de outro modo”, tal como Paulo Sarmento, administrador da Maternidade de Júlio Dinis, que lembra que não há relato de “queixas significativas”. Sobre o caso do Amadora-Sintra, Maria José Alves entende que o aumento seja mais pronunciado, uma vez que na zona de influência do hospital havia muito aborto clandestino e muita automedicação.