Testemunho
Testemunho

Após uma decepção de amor aos 21 anos, um amor que eu julgara eterno desde os 15 anos, nada mais fazia sentido para mim. Vivera tão intensamente esse sonho de adolescente que me esquecera de mim. Deixei de me sentir bonita, alegre e desinibida como o fora outrora para me sentir rejeitada e sozinha.

Num desespero total, supliquei a Deus que me devolvesse a minha felicidade, mas em vão, o tempo passava e os meses pareciam anos e eu fui-me sentindo cada vez mais sozinha.

Passaram-se dois anos e o meu coração foi endurecendo, passei a dedicar-me ao meu trabalho, substituindo os meus momentos de lazer por esse magnífico elixir.

Fui-me a pouco e pouco distanciando cada vez mais dos meus amigos, dos meus pais e até de mim própria, passei a viver em função do meu trabalho, assim pude atenuar os pensamentos e os sentimentos, e a dor foi a pouco e pouco desvanecendo.

Seis anos depois, a após mudar de emprego, fui tomando contacto com um novo mundo, um novo desafio. As pessoas eram muito jovens e o ambiente de companheirismo e espírito de equipa levaram-me a experimentar de novo o sabor da amizade.

De repente, e quando já nada esperava se Deus a quem há muito tempo atrás suplicara os meus momentos de felicidade, encontrei um amigo muito especial. Os serões que anteriormente fazia em prol da empresa passaram a ser em função de mim própria e do meu bem estar psicológico.

Esse amigo foi-me fazendo companhia, íamos conversando sobre as nossas vidas e as nossas experiências, cada vez ficávamos mais tempo e o tempo voava !

Foi então que de repente me vi traída pelo meu próprio coração! Apaixonei-me! Não sei se fora pelo olhar, se pelo sorriso, se pela calma e serenidade, se pelo bom humor, ou até mesmo pelo facto de ele saber ouvir, mas o que é facto é que estava apaixonada!

Foram longos tempos de espera até que essa paixão fosse correspondida, os seus sentimentos por mim eram de amizade profunda e uma amizade nem sempre se pode conciliar com sentimentos mais profundos, o medo de perder o melhor invade o nosso pensamento e por vezes vence.

Um ano depois, numa noite de luar, resolvemos consumar o nosso amor e foi aí que tudo começou, um mês depois do dia de Santo António, meu protector, e Deus presenteou-me com a noite mais feliz da minha vida até então.

Aí acreditei que Ele não se esquecera do que lhe suplicara. Durante um ano e meio fomos felizes, embora por vezes a minha forte insegurança tornasse por vezes situações menos agradáveis a ambos, mas à nossa maneira o amor resistiu.

Um dia após alguns momentos de hesitação, a nossa relação tremeu! A minha insegurança e a minha falta de auto estima assolaram os pensamentos de António, e aí fui confrontada com o pior, ele já não conseguia sentir-se como de início perto de mim.

A força, a alegria e incentivo que de início o atraíram em mim, tinham desaparecido, e as suas forças foram consumidas por mim, agora estávamos ambos sem saber como fugir à rotina e o carinho que havia entre ambos estava agora misturado com sentimentos de angústia, dúvida e ressentimento.

Voltei a suplicar a Deus que não me levasse de novo a minha felicidade, aquela que apesar de tudo me consolava, o que eu ainda não sabia é que para além do amor que eu sentia por António, tudo o resto era a maldita rotina a que me abituara e não felicidade verdadeira.

Deus voltou a dar-me uma oportunidade, e a nossa relação prosseguiu, apesar de um pouco estranha. Tentamos fugir à rotina e fazer coisas diferentes, tentei sacrificar-me um pouco em prol do nosso amor e fomos prosseguindo.

A pouco e pouco fomos conseguindo re-aproximamo-nos.Até que um dia algo de “tenebroso” assolou as nossas vidas, aquilo que eu sempre sonhara mas num cenário bem diferente, aconteceu, estava grávida!

Nunca imaginara o que iria sentir no dia que soubesse que iria ser mãe. Mas por certo que seria algo de diferente do que senti naquele preciso momento.

Não sabia se havia de ficar triste ou feliz, não sabia se era algo de bom ou mau, um turbilhão de sentimentos contraditórios assolou os meus pensamentos e sentimentos. Entrei em pânico, como iria contar ao António, como iria ele reagir?

A custo e no meio de um pranto confrontei-o com a situação, e eis que o inevitável aconteceu.

O António que eu julgara conhecer, de repente transformou-se e teve a mais pobre e triste reacção que um homem pode ter perante uma mulher no meu estado físico, e picológico, “- Não te preocupes que vamos “resolver” a situação.”

Desilusão? Compaixão? Compreensão? Não sei o que senti nesse momento!

António, era o meu herói, era a imagem de uma pessoa forte, decidida, sempre sabia resolver tudo em prol do meu bem estar, estava agora a ter uma reacção contrária a tudo o que alguma vez eu viria a esperar. Se a confusão estava instalada na minha cabeça e coração, depois disto, eu estava de rastos.

Voltei para casa sem saber o que fazer, acabei por contar à minha mãe que ficou tão assustada e desiludida quanto eu. Dias mais tarde também o meu pai ficou a saber, foi o que melhor reagiu, ficou radiante!

Eu e António, falamos várias vezes no assunto, durante dois meses e meio, foi uma tortura ! Um dia íamos ter o filho, no dia seguinte já não. Um verdadeiro terror!

Por amor acabei por ceder em abortar, queria que o pesadelo terminasse quanto antes pois já não aguentava mais a pressão por um lado da minha família, por outro o António. E eis que o dia D chegou! Já não podia evitar falar no assunto, e fui confrontada com a resolução! Ou fazia o aborto, ou António deixar-me-ía, pois não queria compactuar com uma resolução destas! Não havia condições financeiras para darmos uma vida como deve de ser ao nosso filho na sua opinião, ou dávamos “caviar”, ou mais valia estarmos quietos!

Chorei, pensei, sofri que nem uma condenada, mas não podia “matar” o meu filho ! Sempre fora contra o aborto nestas circunstâncias, e eu é que não podia compactuar com um assassinato em prol do bem estar e comodidade de quem demonstrara ser um poço de egoísmo. A minha resolução estava tomada ! Jamais conseguiria fazer uma coisa que mais tarde me traria angústia, sofrimento, dor e acima de tudo arrependimento.

António, durante quatro longos meses nada me disse, passei a minha gravidez só, mas muito bem acompanhada com todos os meus amigos, que me apoiaram tal como os meus pais.

Foi um período de angústia que a pouco e pouco me foi tornando mais forte, apercebi-me que Deus me quisera dar um ensinamento de verdadeiro Amor e carinho, não só provando que uma amizade verdadeira vale mais do que um amor falso, bem como que a experiência de sentir-me mãe é única e homem nenhum poderá desfrutá-la para a poder avaliar. Talvez esta segunda prova seja a única que nos leve a perdoar um homem peça sua atitude.

Após sete meses de gravidez, eis que aconteceu uma desgraça, fui de urgência para o hospital ! A minha tensão subiu muito e tinham de tirar-me o bébé, eu estava a morrer.

Dez dias de internamento, cinco deles nos cuidados intensivos, adormecera no bloco operatório sem a certeza de que voltaria a acordar, nem tive tempo para pensar que Deus estava comigo ! Deus e todos os que me amavam, e que ainda antes de meu filho nascer já o adoravam e apaparicavam como se estivesse cá fora!

Mas acordei ! Não tive coragem de perguntar pelo meu filho! Tinha medo! Pela primeira vez tive Pavor de colocar uma simples questão. Como está o meu filho? Foram longas as horas até que a minha mãe revelou … João tinha nascido bem e tal como eu, embora bastante melhor que eu, estava nos cuidados intensivos neonatais! Ambos resistimos a tudo até à maldade humana que tinha assolado o coração de António quando um dia negara o nascimento do seu próprio filho!

António foi avisado do nascimento de João, a princípio hesitei em contar-lhe, mas nunca consegui odiá-lo pelo sucedido, mantinha o mesmo carinho por ele, talvez agora adornado pelo sentimento de piedade por uma atitude pouco nobre que um dia ele tivera. No fundo eu conhecia o António ! Ele iria amar o filho tal como eu ! Ele sempre adorara crianças e esta criança tinha o seu sangue!

Ele veio ! Veio visitar-me no segundo dia após ter tomado conhecimento do seu nascimento! Os seus olhos brilharam quando me viram, a primeira pergunta que lhe fiz foi se já vira o bebé, e ele respondeu que primeiro viera ver a mãe que estava pior.

E voltou a vir … todos os dias que eu e João esrivemos no hospital, ele veio visitar-nos. A pouco e pouco fomos falando mais sobre nós, embora o assunto principal fosse o João, claro !! Foi difícil! Quatro meses de distância e um relacionamento distante, abria uma ponte entre nós ! Doeu muito ouvir as suas palavras frias, já sem o calor da paixão e do carinho que outrora tivemos.

O João saiu do hospital um mês depois ! Eu sabia à medida que se ía aproximando a data dele sair que estava a aproximar-se o fim dos nossos encontros frequentes ! Queria muito que o João saísse, mas queria muito continuar a encontrar-me com o António !!

Mas o João saíu, e desde aí não voltei a encontrar-me com ele, o pai do meu filho. Já passaram dois meses ! Todas as quartas feiras ele liga para saber do João ! Mostra-se interessado não só no filho como na saúde da mãe, mas não passa disso.

Deus deu-me o que de melhor me podia dar, o João, que é hoje a alegria da minha vida por quem farei tudo, por quem quase morri ! Gosto muito do António, e todo o sofrimento que me causou, apesar de tudo, ironicamente, fortaleceu a minha auto estima ! Porque Deus nada faz ao acaso, ajudou-me através de um sofrimento temporário a conseguir a maior felicidade que se pode ter … Um filho ! Um ser que sempre nos amará e dará valor, quanto mais não seja porque graças a nós é que ele veio a este mundo !!!

Deus dá e tira em prol de uma Felicidade maior !

 

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