O J. é um menino de 7 anos, franzino e simpático. Veio ao CPCIL por sugestão do professor de 1º ano que dizia à mãe que ele era sobredotado e até escreveu tal barbaridade na ficha informativa do final do 3º período.
Queria acelerar o aluno para o 2º ano, mas como era professor contratado nunca encontrou apoio no douto grupo de colegas, foi ministrando os conteúdos do 2º ano mas no ano lectivo seguinte foi colocado, sabe-se lá onde, se é que conseguiu sê-lo, nesse verão a mãe veio de longe com a criança para fazer a avaliação, entre o ansiosa e o descrente, pois os problemas da vida diária eram e são mais que muitos cada vez mais complicados.
Aplicados os testes à criança, verifiquei que em termos cognitivos estava acima da média para a faixa etária (ou seria melhor dizer que tinha capacidades excepcionais de aprendizagem vá-se lá saber o que isto realmente quer dizer!?), era sociável, bem enquadrado, com boa coordenação motora e bom potencial divergente. Que estaria a fazer no repetitivo e maçador 2º ano de escolaridade, onde nada de novo se aprende (quando se é bom aluno, entenda-se), por que razão o professor não escrevera a simples palavra transitar na tal ficha O que se teria evitado!
Era um caso de passagem para o 3º ano pelo menos pelo Natal mais próximo. Dei conta à mãe das minhas conclusões e como faço SEMPRE, antes de elaborar relatório e iniciar o processo, entrei em contacto com a professora para a) obter informações sob outra perspectiva; b) testar a receptividade da professora a uma possível aceleração, c) prever a reacção da escola e o seu grau de autonomia.
No telefonema, a professora do J. corroborou que era bom aluno, que já sabia as matérias e que, dependendo dela, nada haveria a opôr à transição, que precisava de um relatório. Enviado o dito, dei o caso por encerrado. Tudo haveria de correr bem.
Puro e redondo erro!
Liga-me o avô, a meio da tarde, eu em plena rua barulhenta, aflito, que fora chamado à escola com a filha e que em reunião confusa a escola dera o dito por não dito, tinham dado, sem aviso, um teste de 3º ano à criança, que obviamente não o soubera realizar. Logo não poderia acelerar (para o 4º ano, presume-se ao que nos oporiamos todos, evidentemente, pois só pediamos o cumprimento da lei e a aceleração a meio do 2º ano para iniciar os conteúdos do 3º ano, o mais difícil dos 4).
A partir deste momento, a confusão foi total. A escola recusou a aceleração. A mãe recorreu à DREA. Estes lavaram as mãos e remeteram o processo à procedência, informando oralmente que aquilo era um agrupamento do piorio, que não se entendiam. A professora deu em humilhar a criança, chamando-lhe burro, e outros simpáticos epítetos equivalentes, deixando o pobre do J. retinente a sair para a escola e regressando amargurado, triste e abatido.
Atónita, a mãe foi chamada à escola, onde terá sido submetida a um tratamento de choque numa longa reunião com 5 elementos, onde as ameaças de chumbo iminente se persistisse nos seus intentos, a deixou atordoada. Para se livrar acedeu. Revoltada, ligou-me. Não se conformava. Todo o processo, agora acompanhado pelo relatório da psicóloga assistente do J., foi então remetido para a Inspecção Geral em Lisboa. Mas voltou à DRE. O inspector, um psicólogo (?!), também da DRE, apareceu na escola já em pleno tempo de férias de Natal. Convocou a mãe na tarde após reunião matinal com as doutas docentes. Não admitia réplica, o J. nem pensar que podia transitar, as professoras é que sabiam, a escola é que decidia, ponto final, que estou com pressa (para ir comprar as prendas de Natal, quem sabe?), mudar de escola, era o que faltava, nem sequer vai mudar de professora, nós é que sabemos! E nem sequer viu a criança. Para quê? Já sabia TUDO! As outras professoras já o tinham amestrado.
A Dra Manuela, quem é? não conheço, nunca ouvi falar, o CPCIL? não tem qualquer credibilidade. E atrasado lá se esvaiu da escola. (Por onde terá andado, de que país terá vindo este conceituado inspector-psicólogo que nos últimos 18 anos, nunca ouviu falar de sobredotados, sendo que entre 1988 e 2000 apenas o CPCIL e a pobre da Dra. Manuela deram a cara por tal temática!) A mãe, cada vez mais atordoada, a chorar, perante o Natal mais triste da vida dela, do J. e do avô dizia, o que vou eu fazer, não o quero com aquela professora.
Passou por cá com o J. nas férias e a criança estava em estado lastimável, cheio de tiques, inseguro, fugidio parecia com receio de executar qualquer tarefa escolar. O que ensinam e como desenvolvem alunos os nossos excelentes professores! Felizmente são estes as excepções!
A segunda semana foi passada à procura de outra escola para o J.. Uma oficial era impensável, pois se a hierarquia classificara o agrupamento de forma tão eloquente, qualquer escola estava sob a alçada da(s) possíveis víboras. Uma escola particular a 30 km de distância, quis ver a criança e decidiu aceitá-la.
Um mês depois, o J. recuperou a auto-confiança, está seguro, sociável e os seus resultados são de Muito Bom a tudo.
A mãe, angustiada por ter de pagar uma mensalidade elevada, de que não estava à espera, por ter de se deslocar 30 Km a levar e trazer o filho da escola, solicitou ao Senhor Ministro da Educação a possibilidade de ter uma comparticipação, prevista na lei, mas que deveria ter sido pedida antes do final do 1º período, o que foi impossível devido aos lamentáveis passos do processo.
O M.E. remeteu o processo de novo para DRE. A mãe continua à espera e desespera. Que carrocel!!!
Onde está a avaliação dos agentes educativos, que critérios se aplicam, estes processos não deveriam ser ponderados na progressão das suas carreiras?
Onde fica o direito dos pais na educação dos filhos em idade escolar?
Manuela Freitas